terça-feira, 13 de setembro de 2011

A noite

Saiu de algum lugar rumo a lugar algum numa noite de concreto quente na metrópole de céu vermelho. Consigo, um par de tênis furados calçando meias sujas, jeans rasgado nos joelhos, camisa pregada ao corpo pelo acumulo de suor de um dia inteiro e uma mochila cujo o conteúdo era menos valioso que a pobre mochila de estimação em si naquele corpo miúdo. Já passava da meia-noite, tarde demais para pegar um ônibus rumo ao seu destino clandestino. Seguiu a pé pelo concreto rachado pelo tempo. Passou por bocas, travestis, putas e pastores evangélicos, todos tão convictos e cheios de certezas quanto ao seu rumo da noite. Uma senhora fazia o passeio vespertino com sua cadela quase a uma da manhã. Carros com músicas altas passeavam indiscriminadamente. Nada fazia sentido, nem todo o perigo de vagabundear como um mulambo insano com a mente vazia. Antes de completar seu destino, parou em um posto de gasolina ao lado de um cabaré em busca de passagem para o dia seguinte de fé. Não existia mais. Queria terminar sua noite fatídica sem rumo com cervejas e cigarros. Gastou seus últimos dois e cinquenta em uma latinha de Coca-cola.