domingo, 26 de setembro de 2010

Platônico

Pele clara como a luz do sol. Ou como lua em noite de namoro na praça. Cabelos finos e lisos, escuros como uma noite sombria, cuidadosamente amarrados em uma tentativa de coque preso por uma piranha e uma xuxinha em forma de fio de telefone. Olhos claros realçados pela clareza da face, deixando o azul da íris em um tom angelical. Óculos de armações grossas e de cor preta, cravejada com pequenos pontos brilhantes, deixando-a com um ar intelectual sem perder a sutileza dos traços finos. Gestos finos. Ao escrever, parece entrar em outro mundo. Suas crocs verdes ficam no chão enquanto as pernas ficam cruzadas sobre a cadeira. Uma franja lentamente cai sobre as lentes dos óculos de leitura, forçando-a elevar sua mão esquerda para repor a franja caída atrás da orelha em um gesto automático sem perder a compenetração em seu raciocínio. A mão direita serve de apoio a cabeça já um pouco cansada. Inspira. Como se já soubesse, mira o olhar diretamente para o olhar que a mira. O coração do antigo observador dispara diante do olhar da nova observadora. O acompanha. Sorri. Sorriso da boca retirado da lua minguante. Sorriso dos olhos retirado da obra machadiana. Poucos segundos de êxtase que passam como um filme em câmera lenta. Um arrepio o invade. O observador sente vergonha e desvia o olhar. Guarda o instante consigo para sempre. Sorri. O nome dela nunca irá saber.

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